domingo, 16 de maio de 2010

Finalmente São Tomé...

Parece que foi ontem que aqui cheguei mas já 2 semanas passaram. Após a primeira semana mais relaxada e de adaptação à cidade e ao hospital, a segunda correu rápida e intensa.


O Hospital

O Hospital Dr.Ayres Menezes, onde decorre grande parte da nossa actividade, é uma estrutura pavilhonar dispersa num terreno implantado no cimo de um monte, com uma posição privilegiada e sobranceira à cidade de São Tomé e à sua baía.


















As limitações de espaço e a desadequação das estruturas são evidentes,e não são estranhas aos profissionais que nela trabalham e que tentam diariamente fazer o melhor com aquilo que existe. Uma das maiores dificuldades é sem dúvida a falta de água corrente no hospital o que dificulta a higiene dos doentes e dos profissionais e impõe ainda maiores limites ao tipo de exames disponíveis. Formatados que estamos a trabalhar num hospital terciário com acesso em tempo real a uma série de dados radiológicos e laboratoriais, o trabalho diário não é fácil, forçados que somos a confiar quase unicamente na clínica e a trabalhar com diagnósticos de presunção o que nos provoca algumas angústias profissionais e pessoais.

À semelhança do que vemos em Portugal, o tipo de patologia mais comum são as infecções respiratórias e as diarreias. As grandes diferenças prendem-se com a existência de doenças caracteristicas dos trópicos como a malária e a frequência elevada de parasitoses intestinais e infecções cutâneas.

O Descanso
Mas nem só de trabalho vive o Homem. Logo á chegada, tive oportunidade de partir em viagem para o sul da ilha,visitar os amigos da AMI em Angolares e participar na festa de despedida do amigo Ricardo.


A beleza da ilha é indesmentível e é de verdade um paraíso tropical.Uma floresta luxuriante, praias semidesertas de areia fina rodeadas de palmeiras e um mar de águas quentes e límpidas.
A população é bastante simpática e cumprimentam-nos à passagem. Esta espontaneidade é mais visível à medida que nos dirigimos para fora dos centros urbanos. Os adultos erguem as mãos acenando, as crianças acorrem gritando "doce-doce".

Cáritas

Na Cáritas, as coisas já mexem. Na sequência dos contactos que o Ricardo tinha já estabelecido conto ainda esta semana assegurar o fornecimento das tintas para iniciar a pintura dos espaços para os tornar mais adequados à idade dos seus pequenos residentes. Contem com novidades para breve.





Para finalizar não posso deixar de agradecer ao Ricardo pela excelente recepção que me preparou e pela companhia amiga que aqui tão longe de casa foi ainda mais importante.

Até breve...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

De saída...

Olá a todos!

A dois dias do meu regresso a Portugal vou tentar fazer-vos um resumo do que aconteceu nestas últimas semanas.

De 16 a 23 de Abril, tive oportunidade de visitar a ilha do Príncipe no âmbito da colaboração com os cuidados de saúde primários. Esta é a ilha mais pequena do Arquipélago de São Tomé e Príncipe, com apenas cerca de 5000 habitantes. A primeira impressão ao chegar a esta ilha, à semelhança do que já tinha acontecido aquando da chegada a S. Tomé, é de que a natureza domina em absoluto, com a selva a recobrir quase todo o território. Um aspecto que me surpreendeu, sabendo das dificuldades que acompanham a vida num lugar onde o fornecimento de energia eléctrica e de água acontece apenas algumas horas por dia, foi descobrir aldeias com um aspecto muito cuidado, com as casas pintadas e com jardins relvados, bem como um povo que parece genuinamente feliz e que nos recebe sempre com um sorriso nos lábios.

Também o primeiro contacto com o Hospital Dr. Manuel Quaresma Dias da Graça foi bastante positivo. Com 3 médicos e 16 enfermeiros, conta com as valências de Medicina Interna, Maternidade, Pediatria e Estomatologia, apoiadas por um laboratório, uma farmácia e um serviço de radiologia. Adicionalmente, os serviços de saúde são compostos por 5 Postos de Saúde e 4 Postos Comunitários. Sendo uma ilha tão pequena e com tão poucos habitantes, alguns programas de saúde pública parecem ter aqui excelentes resultados como sejam as campanhas de vacinação infantil, o programa de combate ao paludismo ou o programa de tratamento dos doentes com SIDA. No hospital as minhas actividades consistiram na visita diária às crianças internadas, bem como na realização da consulta de Pediatria e, no final da semana, a impressão que ficou foi a de que globalmente os habitantes desta ilha eram bastante saudáveis, contrariando aquela imagem que temos de África e que, pessoalmente, tinha de S. Tomé, resultado, talvez, das minhas actividades no hospital central, onde são internados os casos mais graves. Foram muito raros os casos de desnutrição observados, nenhum deles grave, e, apesar da escassez de meios diagnósticos e de medicamentos, todas as crianças internadas evoluiram muito favoravelmente. Os últimos dias no hospital foram dedicados à formação geral em Pediatria com particular incidência na nutrição infantil, no reconhecimento da criança gravemente doente e no uso racional de antibióticos.



À chegada a S. Tomé mais uma surpresa agradável. Lembram-se da Sara e do Henrique? Estavam de volta para uma semana de “férias”. Da última vez que cá tinham estado surgiu a possibilidade da adopção de dois irmãos e teve início um processo que parece estar a correr a bom ritmo e que esperamos que brevemente permita o alargamento da sua familía. Foi muito bom revê-los e ver a sua felicidade junto das crianças. Espero poder repetir a experiência em Portugal quanto antes.


Também na Cáritas existem algumas novidades… Apesar de, no momento em que termino a minha missão sentir que muito ficou por fazer, já se notam muitas melhorias, fruto do trabalho das voluntárias que ali trabalham. Os bebés parecem estar de melhor saúde e é evidente a melhoria do seu desenvolvimento psicomotor. Da mesma forma, também o espaço físico se encontra melhorado e existe agora uma sala de actividades onde as crianças podem brincar e aprender. Mas, como disse antes, muito falta ainda fazer e lanço o desafio a todos aqueles que lêem este blog aqui em STP que “dêem uma mãozinha” para ajudarmos a melhorar as condições de vida destas crianças com vidas tão desafortunadas.

Na última sexta-feira chegou o meu “substituto”, o Américo, que dará seguimento ao nosso projecto de cooperação. O fim-de-semana foi passado fora da cidade, na praia e em ambiente de descontração que me permitiu uma última visita (para já) a alguns lugares dos quais levo recordações maravilhosas. Terminado o tempo de lazer teve início uma semana muito trabalhosa que espero que permita ao Américo a melhor integração possível neste país com tantas diferenças relativamente a Portugal. Aguardem notícias dele para breve. Quanto a mim, este será talvez o meu último post desde S. Tomé, mas espero poder continuar a contribuir para a melhoria dos cuidados de saúde pediátricos deste país uma vez no meu hospital.

Até breve.