quinta-feira, 25 de março de 2010

Kakaôo

No passado dia 19 teve lugar na Alliance Française a inauguração da exposição "Kakaôo", do reputado pintor santomense, Eduardo Malé (ao centro na fotografia abaixo). Uma lufada de ar fresco depois de uma semana de trabalho complicada.




À conversa com...



Regularmente, no Instituto Diocesano de Formação João Paulo II (I.D.F.), têm lugar uma série de actividades que representam um importante estímulo para o ambiente cultural desta cidade. Uma dessas actividades chama-se "À conversa com..." e consiste numa espécie de entrevista informal a convidados que , pelo seu valor intelectual e humano, assumem posições de destaque na sociedade de S. Tomé.

Na semana passada, em homenagem à poetisa e nacionalista santomense recentemente falecida, D. Alda do Espírito Santo, o convidado foi sua Ex.ª o Bispo de S. Tomé, D. Manuel António dos Santos. Num estilo descontraído partilhou com audiência algumas das suas experiências e opiniões, dirigiu um sermão aos alunos e ainda tocou e cantou algumas músicas.


No final, ainda teve lugar um "Sermão dos alunos aos professores" a que se seguiu a declamação de alguns dos poemas da D. Alda.
Um serão muito agradável que esperamos que se possa repetir brevemente.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Cáritas Special

Num momento em que o trabalho ganha cada vez maior intensidade e aprendo a “desenrascar-me” melhor num tipo de medicina praticamente sem recursos tecnológicos a que estava pouco habituado, fora do hospital dão-se acontecimentos que me continuam a surpreender e a dar força. Hoje conto-vos as histórias de três pessoas com um coração muito grande que tive o privilégio de poder conhecer e me tornar amigo.

Poucas semanas depois de chegar a STP, conheci a Marta, uma professora de História, Portuguesa, que aqui vive há 7 anos. Passados alguns dias e depois de nos conhecermos melhor, confidenciou-me que tinha há já algum tempo o desejo de poder adoptar uma criança e que gostaria de me acompanhar numa visita à Cáritas para tentar perceber se seria este o momento ideal. Como a mim me tocou a primeira vez que visitei a instituição, também a ela, creio, aconteceu o mesmo. As dúvidas dissiparam-se e brevemente dará início a todo o processo que, ao que parece, não é muito fácil, mas certamente será muito recompensador.

Não fosse este episódio suficientemente motivador, na 6ª Feira passada, no próprio dia em que chegaram, conheci a Sara e o Henrique, um casal português que veio de férias com um objectivo. Também eles querem adoptar uma criança santomense. Num ambiente de descontracção, já em ritmo de fim-de-semana, abordaram-me depois de me terem reconhecido através das fotos que publiquei neste blog. Que sensação! Contaram-me que era a 2ª vez que visitavam a ilha mas que desta vez vinham com a intenção de iniciarem um processo de adopção e que gostariam de, eventualmente, o fazer com uma das crianças da Cáritas. Ontem visitámos o orfanato e foi uma tarde muito bem passada. Resolvidas as questões de saúde de alguns dos meninos, passámos à bincadeira e foi uma excitação para todos, pequenos e graúdos. Também para eles o processo não será fácil, ainda para mais tratando-se de uma permanência de curta duração. Mas, espero que saibam, bem como a Marta, que estarei aqui disponível para ajudar no que for preciso. Leve o tempo que levar estou seguro que no final terão sucesso e conseguirão dar a oportunidade de uma vida melhor a algumas destas crianças.

Aos três um agradecimento do fundo do coração por me deixarem participar neste processo e por me permitirem sentir a minha presença ainda mais especial.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Evacuações Médicas

Uma das actividades que certamente se virá a revelar da maior importância durante a nossa presença neste arquipélago serão as evacuações médicas. Estas situações estão reservadas para doentes que, tendo atingido a totalidade dos recursos médicos de STP, necessitam de ser transportados para Portugal para poderem ser tratados. Geralmente implicam a análise do caso por uma Junta Médica para determinação da urgência e do local para onde será feita a evacuação. Este processo que pode ser mais ou menos moroso, é fundamental num país com recursos tão limitados como este e tem permitido melhorar a qualidade e mesmo salvar a vida de muitos doentes. Desde que teve início o projecto de cooperação do São João com a república Democrática de S. Tomé e Príncipe já procedemos à evacuação de vários doentes, principalmente com patologia do foro cirúrgico. Também doentes com patologia ortopédica, oncológica e nefro-urológica se apresentam diariamente como potenciais candidatos a serem tratados no nosso hospital e esta semana contamos evacuar mais duas crianças, para as quais esta será a única oportunidade de se estabelecerem diagnósticos precisos que permitam, eventualmente, uma cura. Certamente com o tempo identificaremos casos que necessitem do apoio de outras sub-especialidades. É um processo que, estando necessariamente associado a uma grande componente burocrática, se torna muito trabalhoso, mas que finalmente se associa a uma grande satisfação. Que bom foi ver a alegria das famílias e amigos das crianças que, tendo já sido tratadas no São João, regressaram a suas casas com os seus problemas resolvidos e podem agora crescer mais felizes.

Sei que a mim cabe a parte mais fácil e que a todos os que trabalham na Pediatria do nosso hospital se devem os maiores agradecimentos pela forma como estas crianças têm sido tratadas. Enquanto aqui estiver conto continuar a dar-vos trabalho, mas em breve me juntarei a todos vós para continuar esta missão de ajudar este povo com todos os recursos de que dispomos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

A vida à latitude 0º

Caros amigos, desculpem a ausência de notícias, mas nos últimos dias escassearam as oportunidades para vos escrever. Tentarei hoje, após ter passado o primeiro mês, dar-vos uma ideia de como tem sido a minha vida neste país tropical.
No hospital parece finalmente estar criada uma rotina e isso tem-me permitido sentir cada vez mais integrado e mais interventivo. As minhas actividades têm-se dividido entre o Serviço de Urgência e trabalho de enfermaria e, na maioria dos casos, não parece existir, quanto ao tipo de patologias observadas, grande diferença relativamente ao que acontece no nosso país. No entanto, todos os dias sou confrontado, com casos muito graves. Antes de vir sempre ouvi dizer que neste país ninguém passava fome, que a terra era muito generosa e os alimentos muito abundantes. Não tinham razão. Com uma frequência muito superior aquela que se poderia imaginar, surgem casos tão graves de desnutrição, que resultam, vezes demais, em fatalidades, sem que nada se consiga fazer para o impedir. Também o paludismo cobra um preço muito alto e, quase diariamente surgem novos casos. Alguns conseguem tratar-se, outros não… Lidar com esta realidade não tem sido fácil e acho que não conseguirei nestes 3 meses habituar-me. Continuo a sentir uma grande revolta por, ao contrário do que estava habituado, as crianças apenas serem trazidas aos cuidados de saúde quando se encontram muito debilitadas e, muitas vezes, em situações irreversíveis. Mães adolescentes, algumas já com vários filhos, com noções muito pobres sobre saúde, educação e civismo, revelam uma despreocupação chocante pelo bem-estar das crianças. O alcoolismo é um problema tremendo e basta sairmos da cidade para o percebermos. Por toda a parte vemos crianças a brincar na rua, pedindo “doce-doce” aos estrangeiros que encontram, enquanto os adultos, reunidos à beira da estrada, bebem e dançam.
Numa terra cheia de potencialidades, a cultura do “leve-leve” parece ter levado a melhor! O analfabetismo, a promiscuidade sexual e, acima de tudo, a falta de uma identidade nacional são outros dos problemas graves que parecem deixar este povo mergulhado num torpor do qual parecem não querer, ou não poder, sair. No final, serão sempre as crianças as mais prejudicadas… Daí que veja a nossa presença em STP como uma oportunidade única de tentarmos intervir junto das comunidades e assim podermos melhorar as condições de vida deste povo. Nesse sentido iniciei também nas duas últimas semanas, as visitas aos Postos de Saúde que funcionam numa rede integrada, denominada “Saúde Para Todos”, sob cordenação do Instituto Marquês de Valle Flôr. Daqui em diante, uma vez por semana visitarei estes centros distribuídos pelos vários distritos da ilha, para tentar fazer um levantamento dos problemas mais preementes e podermos programar algumas actividades de consultoria e de formação na área da Pediatria.

Na Cáritas as coisas já mexem e, contando com a ajuda preciosa da Maria João, Assistente Social voluntária que aqui permanecerá durante um ano, temos vindo a elaborar um projecto que se pretende que tenha continuidade pelos próximos anos. A todos os que têm demonstrado interesse em ajudar um grande obrigado. No entanto, peço-vos um pouco de paciência. Neste momento, dado que procuramos uma estratégia que permita uma colaboração a longo prazo, precisamos de perceber qual será a melhor maneira de participarem e, não temos ainda preparados os mecanismos para começarmos a receber bens. O mais brevemente possível dir-vos-ei como o poderão fazer. Para já, é com grande alegria que digo que, com o apoio inestimável da rede que me apoia no São João, conseguimos assegurar o envio de algum equipamento básico como balanças, estadiómetros e alguns medicamentos que fazem muita falta numa instituição deste género.

Mas, a vida nesta ilha tropical tem também muitos privilégios. Na companhia de pessoas fascinantes pude, nos dois últimos fins-de-semana, sentir o gosto do paraíso. Praias de uma beleza estonteante, desertas e com um mar quente ou caminhadas de horas pela selva foram experiências únicas para mim e que lembrarei com carinho por muito tempo.

A todos vós um agradecimento sentido pelos comentários carinhosos que têm feito e que me têm dado força para continuar a tentar fazer o melhor trabalho possível em circunstâncias por vezes bastante difíceis.