quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Acção Global


Uma vez que com este projecto de parceria entre o Hospital de S. João e o Hospital Central Ayres Menezes haviam sido iniciadas acções para o tratamento da desnutrição a nível hospitalar, foi realizado um esforço particular no alargamento dos cuidados no âmbito desta problemática.


Acção hospitalar central

O trabalho desenvolvido em torno da desnutrição iniciou-se, como já tiveram oportunidade de ler aqui, pela criação de uma enfermaria independente para as crianças desnutridas e pela introdução de recomendações (OMS) no tratamento da desnutrição aguda grave. Na tentativa de alargar o atendimento a estas crianças mantendo atitudes uniformes foi criado um protocolo de seguimento para estas mesmas crianças, de forma a manter os cuidados após a alta e também como forma de seguir as crianças desnutridas sem necessidade de internamento em ambulatório.


As crianças que são observadas no serviço de urgência e na consulta externa nas quais é detectada malnutrição podem, consoante a gravidade, necessitar de internamento ou apenas de acompanhamento em consulta diferenciada. Um seguimento rigoroso destas crianças prevê uma intervenção multidisciplinar que abrange cuidados nutricionais, emocionais, psico-sociais e económicos que necessitam de atenção e dedicação particulares, e foi na perspectiva de atingir tal objectivo que se procurou estabelecer um protocolo de seguimento.

Foi apresentada esta proposta de seguimento em reunião com a direcção do hospital e com o restante corpo clínico.




No âmbito de formação de equipas multidisciplinares é naturalmente obrigatório capacitar todos os seus intervenientes, nomeadamente a equipa de enfermagem que tem um papel de relevo nos cuidados a estas crianças. Assim, foram realizadas sessões com os enfermeiros do hospital sobre o crescimento infantil normal edesvios da normalidade, assim como atitudes preventivas da desnutrição e outros cuidados primários.



Junto das mães e cuidadores das crianças malnutridas o trabalho é moroso e os resultados positivos difíceis de alcançar. Auxiliam a equipa médica e de enfermagem uma equipa de nutricionistas que intervém mais intensamente no momento da alta hospitalar com recurso a apoios à família na forma de alimentos e indicações dietéticas através da utilização de alimentos mais facilmente disponíveis e acessíveis. Para além desta intervenção foi proposto a essa equipa um esforço extra para realização de sessões de esclarecimento semanais no serviço junto das mães e cuidadores destas crianças com desnutrição aguda grave. Desta forma tem vindo a estabelecer-se uma maior confiança e adesão ao tratamento.



Além do protocolo de seguimento da criança desnutrida, foi também proposto junto da Direcção do Hospital e na mesma reunião acima mencionada um modelo de referenciação aos Centros de Saúde dos distritos destas crianças, que poderão ser inicialmente orientadas em consulta hospitalar e assim que possível transferidos os seus cuidados para a sua área de residência.

A articulação entre os cuidados hospitalares e os cuidados primários é primordial para o sucesso da intervenção nutricional no seguimento destes casos e, de um modo geral, essencial para o estabelecimento de um programa de combate à desnutrição.


Acção distrital

Foram realizadas também reuniões com os Delegados de Saúde de todos os distritos de S. Tomé onde foi apresentada a proposta de intervenção e acompanhamento da criança desnutrida, os referidos protocolos de seguimento e de referenciação aos cuidados nos Centros de Saúde.




Também nos Centros de Saúde foram realizadas sessões com todos os enfermeiros que aí prestam assistência à criança sobre o crescimento infantil, desvios da normalidade e identificação de crianças desnutridas, atitudes preventivas e terapêuticas da desnutrição.



O corpo clínico a nível distrital é reduzido e a assistência médica reservada para os casos mais graves ou complexos, pelo que os enfermeiros têm um contacto privilegiado com as crianças aparentemente sem doença que são assistidas nos Centros de Sáude. Capacitar estes profissionais para o reconhecimento das crianças em risco ou com graus ligeiros de desnutrição é um passo essencial para a implementação de um programa de combate à desnutrição.


Acção comunitária

Como já tive oportunidade de referir, foi estabelecida uma parceria com a HELPO em Outubro do corrente ano , que prevê intervenções a nível das comunidades sobre problemas frequentes, incidindo particularmente na prevenção primária. Propôs-se portanto que fossem realizadas sessões sobre Nutrição nos primeiros anos de vida, completando assim o trabalho realizado a nível dos cuidados de saúde do país.

As sessões foram realizadas nas comunidades de São José e da Saudade, seguindo-se Santa Catarina e Bemposta.



Tivemos a colaboração do Dr. Filipe Montenegro Silva, recém-licenciado em Medicina da Universidade do Porto, que nos acompanhou num estágio durante um mês e que esteve presente durante as formações às comunidades e com as equipas de enfermagem dos Centros de Saúde, participando activamente e com entusiasmo.





Tentou-se assim fechar um ciclo no que respeita à Desnutrição, intervindo a todos os níveis, comunidades, cuidados de saúde primários e cuidados diferenciados hospitalares.



1 comentário:

Anónimo disse...

Belo texto. E fotos.